Foi da criatividade para escrever livros e pintar quadros que o artista Mateus Nascimento tirou inspiração para um desafio esportivo para lá de incomum. No último dia 5 de outubro, o baiano de 46 anos deixou o município de Suzano, na grande São Paulo, rumo à cidade de Rio Verde-GO, em uma jornada de mais 900km e cinco dias pedalando com uma curiosa bicicleta feita de bambu.
A ideia da aventura surgiu quando Nascimento, que pratica esportes há mais de duas décadas, tendo inclusive participado de provas de atletismo nos anos 1990 representando Suzano, onde mora há 26 anos, decidiu provar que, segundo suas palavras: “o ser humano não é feito de vidro”.
– Não somos tão frágeis quanto imaginamos e podemos superar qualquer coisa. As pessoas têm medo de encarar desafios e minha grande motivação é justamente provar que todos podemos ultrapassar nossos limites – disse.
Além de superar seus limites na longa jornada que passou pelas cidades de Jundiaí, Campinas, Ribeirão Preto, Uberlândia-MG, Itumbiara-GO, Santa Rita-GO e Rio Verde-GO, o artista decidiu fazer o percurso de uma forma diferente. Depois de o filho Marco, de 14 anos, ver na internet que era possível criar diversos objetos feitos de bambu e contar ao pai, Nascimento gostou da novidade e decidiu testar o material.
– Comecei fazendo cadeiras, abajures e mesas. Depois de um tempo, pensei em criar uma bicicleta feita de bambu. Além de ser ecologicamente correta, a bike também é mais leve que as convencionais, o que ajuda ao longo do trajeto – contou.
A primeira bike ecológica foi construída há cerca de dois anos e contava apenas com o quadro feito de bambu. Já a utilizada na viagem é novinha em folha e tem também o guidão feito com a madeira. Com a facilidade em pedalar uma bicicleta leve, Nascimento passou a fazer treinos de três horas por dia, de segunda à sexta-feira, para dar conta do desafio.
Na estrada…
Além dos amigos de pedaladas, o aventureiro também contou com o apoio da família. Sua mulher, Leide Nascimento, foi antes, de avião, até Goiás para aguardar o marido. Como os dois têm parentes no estado, a ideia foi curtir as férias em Rio Verde, mas antes da tranquilidade da folga, o medo da solidão tomou conta do casal.
– Fiquei muito preocupada com ele sozinho na estrada. É tudo muito perigoso – disse Leide, que teve sua ansiedade confirmada.
– Saindo de Itumbiara, rumo à Santa Helena, fiquei totalmente solitário. Não havia nada na beira da estrada e se eu precisasse de socorro não teria a quem pedir. Senti medo e quase fui obrigado a dormir no meio do matagal – relembrou o artista.
Porém, a esposa não imaginava que a solidão era o único desafio que Nascimento teria de enfrentar em sua jornada. Em um dos dias da viagem, a chuva não deu trégua e no final da tarde ele estava totalmente encharcado.
– Tive que ficar só de cueca no acostamento, esperando a roupa secar. Fiquei rezando para ninguém fotografar aquela cena – se divertiu.
Durante os cinco dias em que passou nas estradas do sudeste e centro-oeste do Brasil, o baiano dormiu em hotéis e não teve tempo para nada, a não ser pedalar rumo ao destino e aos braços de sua mulher.
– Entre Campinas e Ribeirão Preto foi o trajeto mais desgastante. Pedalei das 6h30 às 18h, praticamente 12 horas direto. Parei só para almoçar.
A chegada e os ‘flashes’
Por todos os lugares em que passou, Mateus Nascimento chamou a atenção. Segundo ele, as pessoas que o acompanhavam pediam para tirar foto, principalmente por conta da curiosa bicicleta, que não decepcionou seu criador.
– Meu medo era quanto à resistência da bike, mas não tive problemas. Nem o pneu murchou, acredita?! – disse.
Chegando a Rio Verde, Nascimento era aguardado pela imprensa local, que já esperava a mais nova celebridade do município: ‘o homem da bicicleta de bambu’, que teve sua história divulgada em reportagens da cidade.
Depois da aventura, Mateus e Leide passaram 14 dias curtindo as merecidas férias e voltaram de ônibus para Suzano. Das pedaladas de Nascimento, os dois puderam tirar a prova que o ser humano pode superar seus limites utilizando a criatividade.
Mas isso eles sempre souberam. A aventura foi batizada de Mayara Nascimento, em homenagem à falecida filha do casal, e deve ficar ainda maior no próximo ano.
– Em 2014, estou programando ir de Suzano até Salvador, na Bahia – contou o ‘homem bambu’.